O escriba descomplicado
Este colunista, não raras vezes, recebe de uns poucos leitores a torpe acusação de embalar suas crônicas num verbo empolado. O escriba reconhece que vez ou outra resvala para linhas labirínticas, mas refuta a pecha de proseador intrincado. E, tentando jogar pra longe esta inominável imputação, aproveita a idéia de uma matéria da Folha do último domingo —que versou sobre abusos de magistrados no ‘juridiquês’— e rabisca uma historieta com os verbetes constantes no ‘glossário’ da reportagem.
Isso sim é texto anfigúrico:
“Acendrado em seu ‘modus operandi’, o pandilha subtrai uma cártula chéquica e sai para infligir deslisuras em praça diversa da de seu domicílio. Enjaulado pelos meganhas, ele queda-se silente perante o alvazir. Este, resguardado pelo diploma legal, ordena que o meliante seja recolhido ao ergástulo público. Recursos são negados pelo Pretório Excelso e o sacomano é mantido no xadrez cinério.”
Límpido de complicações, o colunista grafaria assim o emaranhado acima:
“Cuidadoso em seu modo de agir, o bandido furta um talão de cheques e sai para aplicar golpes em cidade vizinha. Preso pela polícia, ele cala-se na frente do juiz. Este, amparado pela lei, ordena que o golpista seja encaminhado à cadeia pública. Recursos não são aceitos pelo Supremo Tribunal Federal e o bandido permanece na prisão cinzenta.”
A ‘Dedo de Prosa’ é ou não adepta do palavrório popular?
Música verdadeira
Leio por aí que o governo Lula instituiu um grupo interministerial denominado ‘Comitê Gestor da Sardinha Verdadeira’. Para a administração federal petista o assunto é de alta relevância. O tal comitê vai mobilizar pelo menos cinco ministérios, uma secretaria, um conselho e uma pastoral para debater o assunto.
Este escriba verdadeiro discorda dos medalhões da grande mídia que caíram de pau em cima do comitê. Não tem nada de cômico nesta séria iniciativa do governo. Quem em sã consciência ignora a importância da sardinha verdadeira para o futuro do Brasil? Só os figurões maldosos da imprensa marrom, aqueles iletrados que só conhecem sardinha enlatada.
E, cá da Sanja crepuscular, o colunista aproveita para sugerir ao ministro Gilberto Gil a criação de outro relevante comitê governamental —o ‘Comitê de Avaliação Artística da Influência do Bar do Peixotinho sobre a Música Popular Sanjoanense’. Desde já, a coluna palpita que Zezinho Só, Pistelli, Silvia Ferrante, Zé Fernando Entratice e Faustinho Fontão tenham assento permanente no comitê.
Em tempo: o Executivo municipal também estuda a criação dum importante comitê. O Turquinho Nicolau incumbiu o assessor João Marcelo de gestar o ‘Comitê de Estudos da Influência Política e Eleitoral do Movimento das Senhoras da Tereziano Vallim’.Enxerido, o escriba se auto-convida para presidi-lo ad eternum.
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