sábado, março 05, 2005

O centro do Universo é aqui

“É um moleque que acha que a praça Joaquim José é o centro do Universo.”
A frase acima foi proferida por um adversário ideológico na tentativa de me desqualificar como voz discordante às suas convicções políticas. Ao contrário do desejo ofensivo do meu oponente, acolhi os dizeres como elogio. Fiquei orgulhoso, até.
Sou um crepúsculo-centrista assumido, nascido e criado neste pedaço de chão, que não se envergonha em demonstrar a enorme afeição que sente por esta cidade.
A globalização é um fenômeno econômico e social inevitável. Lutar contra é burrice de quem quer trafegar na contra-mão da História.
No entanto, nesta avalanche de mudanças por quais a humanidade passa, alguns valores pontuais podem e devem ser preservados. O homem por mais antenado no mundo que seja, não pode jamais ignorar suas raízes, seu passado, enfim, seu baú de lembranças.
Ninguém pode ser feliz completamente se perdeu os referenciais físicos e históricos do seu passado. Já li em algum lugar, acho que numa declaração da Unesco, que esta perda de identidade pode causar no indivíduo uma neurose branda.
Obviamente preservar a memória não significa viver do passado, como também não devemos, apesar do apego pelo lugar em que vivemos, fechar os olhos para o quê de interessante existe lá fora. A praça Joaquim José, acho eu, é o centro de tudo, mas, reconheço a existência de vida interessante e fervilhante nas periferias do planeta.
José Roberto Torero, colunista da Folha, estava na Austrália cobrindo as Olimpíadas e se emocionou ao ouvir um grupo de brasileiros entoar o nosso hino nacional. Roubo sua frase para falar de São João: “A gente anda e tresanda mas as coisas que nos emocionam são sempre as mesmas.”
Muitas vezes estes pequenos detalhes que deixam a vida mais bela passam despercebidos. Desdenhamos de simplicidades que deveríamos reverenciar.
Tarde destas, minha mulher me chamou à varanda para contemplar um belíssimo pôr-do-sol. Larguei o meu jornal e fui meio a contragosto. Não me arrependi.
Venerando àquele indescritível espetáculo da natureza senti um arrepio na alma e tive uma maior certeza do profundo amor que sinto por esta terra de crepúsculos tão estupidamente maravilhosos.

p.s. Os centros urbanos vêm sendo degradados ao longo dos anos. Os espaços públicos perdendo qualidade de vida, tornandos algumas cidades quase inabitáveis. Penso e questiono: será que os administradores públicos têm amor pelos locais que governam e habitam??