O café ralo e o bruto caro
José é um brasileiro como tantos outros. Junto com o alvorecer ele pula da cama pra enfrentar a labuta cotidiana.
Seu desjejum é minguado. Sorve meio copo de café ralo e come um naco de pão puro amanhecido. Encontra forças pra encarar o dia no beijo da esposa que lhe abençoa a face seguido de um carinhoso “vá com Deus”.
José ganha o seu pouco mas honesto pão trabalhando na empresa de Franco.
Franco é um próspero empresário que fatura os tubos vendendo o seu produto. Dizem que a empresa de Franco até exporta. Corre por aí, também, que Franco gosta de investir vultuosa parte de seus lucros num hobby caríssimo. A paixão é tanta que Franco patrocina Brasil afora competições deste seu dispendioso hobby. Franco aprecia os brutos voando baixo.
Dia destes, José, cansado de derramar o suor no aluguel de sua modesta morada, foi até à agência da Caixa Econômica intentando levantar uns vinténs e financiar uma casinha. O gerente, compadecido do mísero salário de José, disse que sua renda era insuficiente para o valor pretendido, mas que, com os anos dedicados à empresa de Franco teria um valor razoável na conta do Fundo de Garantia e que este poderia ser usado como parte do pagamento do imóvel.
Entre surpreso e desolado, José descobriu, ante o gerente, que sua conta do Fundo de Garantia nunca vira a cor de dinheiro algum. Estava zerada. A empresa de Franco sonegava-lhe, e continua sonegando, um dos mais elementares direitos trabalhistas.
José franziu o cenho, ameaçou um choro e viu esvair como fumaça o sonho da casa própria.
Nada, aqui, contra os gordos lucros e os extravagantes hobbies de Franco. Mas tudo contra perpetrar estas extravagâncias à custa do surrupio do dinheiro de José e seus colegas.Gostaria que a história acima não passasse de pura ficção. Tirando os nomes, estes sim, fictícios, infelizmente ela é real e ocorre aqui mesmo nesta Sanja de belos e majestosos crepúsculos.
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