sábado, março 05, 2005

Intenções, frustrações e publicações

Sento-me diante do micro, caro leitor, tendo em mente as melhores intenções. Sensibilizado com os prejuízos humanos e financeiros causados pelo trágico afundamento da plataforma da Petrobras, tenho o firme propósito de descobrir soluções para que acidentes do tipo não se repitam.
O meu nobre desejo não dura mais que alguns minutos. Impotente, percebo que meus conhecimentos técnicos no assunto são pífios. Entendo tanto de prospecção de petróleo e de engenharia naval quanto a Hebe Camargo de física quântica e pesquisa biomolecular.
Não, sofrido leitor, infelizmente não é este rascunho de colunista que vai recolocar nos trilhos a empresa xodó dos nacionalistas.
Minhas boas intenções continuam de pé.
Passeio pelos jornais procurando outro imbróglio de difícil solução prá eu meter minha colher salvadora. Leio que governo, empresários e sindicalistas estão buscando um desfecho para a questão do rombo nas contas do FGTS. Apesar de ser um leitor fiel do Luis Nassif, acho que não fiz direito minha lição de casa, pois reconheço minha total inépcia na intrincada questão.
Não, incauto leitor, infelizmente não é este protótipo de colunista que vai colocar luz no problema do FGTS e fazer com que FIESP, CUT e FHC façam um acordo benéfico para judeus e palestinos.
Ainda não perdi minha esperança de escrever algo edificante.
Nossos irmãos portenhos estão passando por turbulências econômicas de efeitos imprevisíveis, chamaram até o Cavallo de volta para que o tango não perca o ritmo. Repito o já dito acima: em questões econômicas sou um discípulo desleixado do Nassif e meus parcos conhecimentos na área não enchem uma xícara de café. Quero continuar apreciando as picanhas maturadas argentinas mas, desculpo-me com nossos vizinhos, não tenho nada para oferecer em troca.
Não, pobre leitor, infelizmente não é este esboço de cronista que vai ensinar o beabá ao Cavallo. Até porque já tem quadrúpede demais na história.
Minha mulher, compadecida das minhas frustradas boas intenções, quer tirar o pouco que resta do meu ânimo para remanejar a mobília da nossa sala de TV.
Mexo daqui e dali, puxando móveis e virando o tapete. Resultado, um completo desastre: a poltrona obstrui a abertura da porta, a claridade bate na tela de TV impedindo a nitidez das imagens e perdemos o espaço para a mesinha do telefone.
Nem grandes questões nacionais, nem economia argentina e nem mesmo uma comezinha tarefa doméstica. Nada. Minha capacidade de solução de problemas, se é que algum dia ela existiu, afundou junto com a plataforma citada no começo desta crônica. E como a dita cuja, está em águas profundas sem possibilidades de resgate.
Apesar desta cristalina inaptidão pra quase tudo, enfarado leitor, tem um editor sem juízo que publica o que eu escrevo e inacreditáveis duas dúzias de pessoas que lêem e gostam.
Não, enganado leitor, este pseudo-escritor também não sabe explicar tamanho absurdo.