Leozinho e Dalva
—Benhê, esse ano precisamos comemorar... você já pensou no que nós vamos fazer pra celebrar a data?
—Hã?!... data?! Ah, claro... não acredito que você tá lembrando. Como a gente vibrou dez anos atrás com o tetra da Seleção. Lembra?! Assistimos aos jogos lá no rancho do Mirtinho, fritando peixe, tomando cerveja e delirando com os gols do Romário. Época boa! Você tá certa, precisamos comemorar... vou ligar pro Mirtinho e ver se a gente consegue reunir de novo a turma.
—Que tetra, que Mirtinho, que turma, que Romário... tá doido... essa época eu quero é esquecer... você, o mala do Mirtinho e aquela patota de bebuns... vocês passaram um mês de fogo vendo o Romário botar pra dentro, mas na alcova que é bom, nada. A bola nem chegava perto da grande área. Leopoldo Augusto (quando ela fica brava, o suave Leozinho vira um contundente Leopoldo Augusto), trata de puxar a memória e lembrar a data importante que nós vamos comemorar esse ano.
Murmurando pra não ferir suscetibilidades, Leozinho tentou, sim, ele tentou, não digam que ele não tentou:
—Seria os 15 anos sem o Muro de Berlim? Ou os 70 anos bem vividos da tia Cotinha? Ou os 10 anos do Plano Real? Ou...
—Não fala mais nada seu estrupício desmemoriado... você me ataca os nervos... este ano nós vamos fazer 15 anos de casados.
—Noooossa! Verdade, querida... mil perdões... como eu pude esquecer. Dá um beijo aqui, môzinho (Chuac! Sim, esse é o som do beijo estalado). Vamos pensar numa coisa bem bacana.
Derretida com as desculpas beijoqueiras de Leozinho, ela sugeriu:
—Sabe, benhê, pensei numa coisa bem romântica, tipo uma viagem de navio, sem as crianças, só nós dois.
—Sei não... viagem de navio?! (faz careta de reprovação)... melhor não, eu passo mal com o balanço do navio... vomito até as tripas.
—Também podemos ir pra Serra Gaúcha, a Lú e o Carlos Eduardo foram e adoraram. Pensa, mô, nós dois grudadinhos, naquele friozinho. Ai delícia!!
—Frio?! Tá doida... Você vê quando vamos à Poços, é eu chegar na Cascata que o nariz começa a escorrer, a tosse ataca e as juntas doem. Odeio frio.
—E o Rio, mô? 40 graus de sensualidade, natureza exuberante.
—É, tá bom, 40 milhões de tiros e arrastões horripilantes. Nem morto!
—Tá bom, reclamão... o que você sugere?
—Pensei em comemorar com os amigos. Juntar a turma no rancho do Mirtinho pra um churrasco e, à tardinha, a gente larga eles lá, pára no Crepúsculo e deixa a jurupoca pular.
—Eu não devo estar ouvindo bem (dá uma vigorosa cutucada nos ouvidos), é isso mesmo que você está propondo pra comemorar nossos 15 anos de casados? Churrasco com turma, no covil do Mirtinho e ainda quer encerrar a palhaçada com jurupoca pulando em motel de quinta? Ora, Leopoldo Augusto, faça-me o favor...
—Oh, Dalvinha, nossos amigos, uma costelinha macia e o grand-finale em cama redonda entre paredes espelhadas. O que mais você pode querer?
—Nada, eu não quero nada, Leopoldo Augusto, põe o lixo pra fora, veste o pijama e vem dormir que amanhã é segunda e a gente tem que pular cedo.
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