O melhor lugar do mundo
Encravada no coração da cidade tem a extensão de dois quarteirões. Este pequeno espaço público que, pelo tamanho, não deveria ser mais que uma rua, recebe o nome de Avenida. Avenida Tereziano Vallim.
O seu charme e a sua localização privilegiada justificam esta deferência na nomenclatura. Afinal, poucos logradouros públicos podem ser, ao mesmo tempo, centrais na localização e agradáveis no habitar.
Na Tereziano, esta proximidade com o centro da cidade só torna mais fácil a vida dos seus moradores. Dispensar o carro para um chopp no Tekinfim ou sair de casa, a pé, as 20:10h para uma sessão de cinema são pequenos prazeres que poucos na cidade têm.
Alguns podem contestar dizendo que a abertura de empreendimentos comerciais destruiram a vocação residencial da rua. Concordo em parte, também preferia a velha Tereziano onde só existiam casas, mas não há no mundo, negócio ou pessoa, que me faça ver nesta avenida aspectos negativos que justifiquem um não habitar. Muito pelo contrário, quanto mais tentam realçar supostos detalhes de decadência do logradouro, mais eu me apaixono por ele.
Numa época em que as pessoas procuram habitar em bairros afastados e condomínios fechados frios e distantes, eu ainda fico com a bagunça calorosa, charmosa e barulhenta do centro da cidade.
Nos últimos meses esta paixão me fez sofrer. Circunstâncias da vida levaram-me a mudar da Tereziano Vallim depois de trinta anos morando ali. Meu filho e minha mulher (em alguns aspectos, eu também) estão felizes no novo habitat e isso me conforta, porém, no íntimo, nunca gostaria de ter saído de lá. Desci apenas dois quarteirões, continuo morando próximo do centro, mas nunca será a mesma coisa.
Levo comigo um baú de boas lembranças do local onde nasci, fui criado, fiz muitos amigos, casei, tive meu filho, terminei a faculdade, etc., etc.
Talvez o tempo mostre-me que a mudança tenha sido prá melhor. Pode ser, embora eu ainda resista a pensar assim.
Da janela do meu novo apê, observo sob um belo pôr-do-sol, fumaças de indústrias e um crescimento desenfreado dos bairros periféricos. Esta visão do progresso deveria compelir-me a olhar para a frente.
Deveria, mas não está sendo assim. E nem sei se será. Deito no sofá, fecho os olhos e volto meus pensamentos para trás. Trinta anos de felicidade na Tereziano Vallim, a melhor rua do mundo.
Eu saí hoje. Amanhã, com certeza, eu volto.
p.s. Alguns amigos me questionam o porquê de não estar escrevendo mais. Escrevi poucas coisas nos últimos meses que O Município por alguma razão não quis publicar. Respeito a Editoria e não vou ficar contestando as razões. Mas, o grande motivo desta improdutividade na criação de textos foi a mudança de endereço relatada no artigo acima.
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