domingo, março 06, 2005

O muro

Alertado por amigos, dei um pulo até a escola Joaquim José pra sapear uma construção que vem causando certa celeuma entre alguns entendidos da cidade. A edificação polêmica é um muro que, supostamente, propiciará mais segurança aos alunos, mestres e patrimônio do tradicional grupo escolar.
Notória é a minha insuficiência em qualquer assunto. Tão notória quanto esta incompetência é a minha capacidade em ignorá-la e palpitar sobre tudo e todos. Não sem razão o ombudsman deste Correio é contumaz em adjetivar-me de bicão e aventureiro. Usando e abusando desta capacidade, irrito meu vizinho e dou umas bicadas sobre o tal muro.
Vendo a alvenaria tomando forma sou obrigado a entoar o coro dos antimuristas. De fato, a obra é horrenda, um monumento ao mau gosto que desrespeita o mais comezinho dos conceitos estéticos.
Não é um muro que vai impedir a ação de vândalos e malfeitores. Ao contrário, nos horários de ócio a escola poderá ser invadida e o muro dará privacidade a bandalheiros e consumidores de entorpecentes.
Ao que consta, recentemente, por ocasião do seu centenário, o Joaquim José teve detalhes históricos de sua construção resgatados por um louvável trabalho de arquitetos especialistas. Murar o entorno do prédio é, mais do que enfear o centro da cidade, colocar uma moldura de quinta numa tela bem pintada.
Que o iluminado autor desta idéia busque inspiração na Berlim de 1989, quando o bom senso fez ruir o muro da discórdia.

Arejar é preciso...
Patrulheiros de redação e estilo deveriam ser sujeitos bem informados. Mesmo emprestando seu belo currículo a jornais de província eles poderiam, vez ou outra, dar uma olhadela nos grandes jornais do país. Arejar é preciso...
Há tempo pulula na grande mídia o termo ervanário como sinônimo de dinheiro. Só pra bem informar o nosso patrulheiro-mor: a Folha de S. Paulo, maior jornal deste país, tem entre seus colunistas o fantástico Elio Gaspari. Pois bem, não passa semana sem que o notável jornalista aponte exemplos de desperdício do ervanário público. Acho até que foi o próprio Gaspari o criador deste neologismo. Neologismo, segundo mestre Houaiss é: “emprego de palavras novas, derivadas ou formadas de outras já existentes, na mesma língua ou não; atribuição de novos sentidos a palavras já existentes na língua.”
Nunca é demais, também, lembrar aos patrulheiros que o vernáculo é dinâmico e que os dicionários funcionam a reboque deste dinamismo. Arejar é preciso...
Boçalidade vultuosa também recaiu sobre o uso da palavra vultuoso. O ombudsman deste Correio fez uma pesquisa capenga e publicou só o que lhe interessa. Vultuoso é, sim, termo médico como citou o ombudsman. Mas significa, também, segundo mestre Houaiss: volumoso, considerável. O mesmo que vultoso.
O patrulheiro, cansado de combater carunchos, neste caso vultuoso deve ter consultado somente mestre Aurélio, que acolhe unicamente o significado médico. Nos dias em que a fadiga permitir, este caruncho escriba recomenda: espie a bela, e vultuosa, obra do filólogo Antônio Houaiss.
Carunchos e leitores agradecem, porque tanto como arejar... pesquisar é preciso...