O palanque eletrônico (1)
Rumores pululam nas esquinas da cidade dizendo que, na eleição municipal que se avizinha, São João estará inserida na era do horário eleitoral gratuito eletrônico, ou seja, os aspirantes ao gabinete da Marechal Deodoro prometerão fundos e mundos na telinha da TV União.
Ao que consta, Duda Mendonça não pretende estender seus domínios por estas bandas caipiras. Já que nas páginas deste Correio aventuro-me em rabiscos parvos, aproveito a necessidade de levantar uns trocos e arrisco-me em mais uma praia que não é a minha para oferecer meu prestimoso labor publicitário aos postulantes a prefeito.
Pra deixar bem claro que não estou nisto a passeio, abuso deste espaço e apresento a potenciais clientes um briefing do trabalho. Para tanto, este neo-marqueteiro usa o nome dos quatro candidatos mais evidentes até o momento: Tenente Fernandes, Plínio Quinête, Vick Nholla e João Otávio.
Tenente Fernandes, eleitoralmente falando, para o bem e para o mal é um militar. Da caserna vêm tanto ordem e disciplina ferrenhas como pendores em ações totalitárias. Sugiro ao tucano dizer ao eleitorado que só a firmeza e respeito às regras serão capazes de combater o caos administrativo e financeiro na Prefeitura. Imagens do candidato passando em revista aos servidores em posição de sentido ilustrariam bem as assertivas anti-desordem. Numa grande mesa de reunião, Tenente Fernandes, com semblante leve e gestos de concordância, ouviria um punhado de assessores na peça publicitária pra dissipar qualquer idéia de totalitarismo. Beijar um playground de pirralhos é clichê que também não pode faltar (esta cena em slow motion com música melosa ao fundo; dá-lhe lugar-comum). No slogan seriam fundidos dois conceitos, o do avanço para o progresso com o respeito dos fardados aos preceitos éticos e morais: “Marcha, São João!” (Findei este parágrafo prestando respeitosa continência).
Já ouvi falar que o Plínio é um forasteiro que tem pouca identidade com a cidade. O atual vice é figura simpática, jovial, sorriso fácil, sua imagem não exige muitas buriladas. Combater a pecha de alienígena pede alguma coisa assim: um barquinho rudimentar singrando nas águas turvas do Jaguari, na pequena embarcação o candidato, ostentando um boné do partido, seria conduzido em pé, altivo, devendo, como atento observador, mover a cabeça pra todos os lados e fazer cara de paisagem. Em determinado trecho do rio, o barco pára, Plínio saca da mochila (sim, ele tem uma mochila de camping pendurada nas costas) uma caneca com o brasão da cidade, se agacha e enche o recipiente com a água lendária do Jaguari. Na sequência a imagem em close-up mostra o candidato sorvendo o líquido numa golada só; segue com o vice tucano enxugando a boca na manga da camisa, soltando um longo aaaahhhh! de satisfação e fixando os olhos na câmera para decretar com seu inconfundível sorriso: “Essa eu bebi e gostei!”. O slogan não carece de muitos devaneios; a cara constante de comercial de creme dental prescreve o fim da carranca: “Sorria, São João!” (Findei este parágrafo sorrindo que nem bobo).
Em pílulas
Já usurpei a coluna com auto-promoção e interesses pessoais. Extrapolar no tamanho do texto já seria demais. Poupo o leitor da dose cavalar de bobagens e volto na próxima edição mostrando a Vick e João Otávio com quantas balas se abate um tucano.
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