domingo, março 06, 2005

Sinais

Mestre Aurélio, o papa do vernáculo, define o vocábulo sinal como: “aquilo que serve de advertência, ou que possibilita conhecer, reconhecer ou prever alguma coisa; demonstração exterior de um pensamento ou de uma intenção.”
Os mais variados sinais são cotidianamente jogados na nossa cara. Uns têm a percepção debilitada e não percebem; outros entendem o recado e manifestam o desejo de agir, de mudar; outros, ainda, têm a nítida compreensão do sinalizado, mas, numa inerte má-fé, se omitem.

No Globo
Os violentos conflitos nas ruas de Gênova, durante a reunião do G-7, são claríssimos sinais de que há algo de muito errado com esta política econômica massacrante das grandes nações capitalistas. Não sou louco de renegar o capitalismo, mas deploro este viés do sistema em que os hegemônicos fortes ficam cada vez mais fortes à custa da miséria dos pobres subdesenvolvidos.
O sangue do italiano Carlo Giuliani é um sinal vermelho aos governantes dos países dominadores. O mundo deve temer muito as conseqüências do desrespeito à esta advertência.
Quem viver, verá.

Na Terra Brasilis
As “barbalhices” na Câmara Alta do Parlamento brasileiro emitem vários sinais. Dentre eles, destaco dois:
Um. A roubalheira, desde que o mundo é mundo, sempre existiu no Legislativo tapuia. Sempre incomodou aquele perfume de carniça exalado do Planalto Central. A diferença é que, agora, identificamos claramente a origem do mau cheiro e, com o voto e a pressão popular, podemos remover os apêndices fétidos e proporcionar um ar mais respirável à capital federal.
Dois. Para brecar a fome de poder do nefasto ACM, o presidente FHC jogou toda a máquina do governo para instalar o picareta Barbalho no melhor gabinete do Senado. Trocou seis por meia-dúzia e deu com os burros n’água. Teria feito melhor se apoiasse a figura íntegra do senador Jeferson Peres.

Na Província
Um aeroporto milionário contrastando com um Distrito Industrial capenga sinalizam distorções nas prioridades do reinado tucano deste canto de belos crepúsculos.
Entre a masturbação sociológica de acreditar que o progresso vem pelos ares, prefiro a crença num pragmatismo pé-no-chão, onde desenvolvimento econômico e empregos sejam aspirações mais palpáveis e atingíveis em curto prazo.
Questão de prioridade.

No meu Ninho
Sinais em profusão no habitat deste escriba.
A mulher que me atura há doze anos faz cara feia e sinaliza que devo desligar o micro para economizar energia.
Meu estômago ronca num clamor inequívoco para supri-lo com nutrientes sólidos.
Minhas pálpebras pesam compelindo-me a mergulhar no leito e dormir o repousante sono dos justos.
Caros leitores, ainda tenho um fiapo de juízo e vou respeitar esta convergência de sinais para concluir a crônica.
Até o próximo sábado se o Editor Bolinha não sinalizar para que cesse estas pífias bobagens.