domingo, março 06, 2005

Um disparo na burrice

Causa-me repugnância, mas não surpresa, as opiniões do sr. Acacio Vaz de Lima Filho acerca das campanhas em prol do desarmamento da população.
Não surpreende ninguém que este senhor, que tem pendores totalitários, cacoetes fascistas e uma personalidade truculenta, defenda uma escalada armamentista por parte dos cidadãos de bem.
Eu, ao contrário do sr. Acacio que gosta de fogo e pólvora, prefiro “guerrear” com palavras para contestar a profusão de imbecilidades que este ilustre advogado despejou nos leitores da Gazeta. Relutei em polemizar com ele, mas uma profunda indignação compeliu-me a combater este ideário bélico.
A mídia não cansa de noticiar mortes de pessoas, muitas vezes crianças, que se acidentaram com armas de fogo. Esta proliferação de armas, pregada pelo articulista, seria institucionalizar a bárbarie e fazer do país uma versão tropical do velho oeste americano. O senhor Acacio deve ser fã incondicional dos filmes de faroeste e quer fazer ficção virar realidade. Seria cômico se não fosse trágico.
A sociedade democrática e civilizada tem mecanismos institucionais para combater a criminalidade. Se estes mecanismos não funcionam, e na maioria das vezes esta é a realidade, a cidadania organizada deve reagir pacificamente para mudar este estado de coisas. Burrice das grandes é combater um mal com outro ainda pior.
Por este raciocínio, então, já que o sistema de saúde está falido, a população deve se equipar e começar a fazer cirurgias na mesa da cozinha.
O advogado “bom de gatilho” quer fazer crer que um simples treinamento deixaria o cidadão apto a manusear armas de fogo. Esquece-se, ou não sabe, o articulista que a arma seria utilizada em situações que a pessoa estaria com o seu estado emocional alterado e, com este componete psíquico, a chance de fazer besteira é muito grande.
Vejamos o exemplo dos EUA, a sociedade mais armada do mundo, onde a conservadora classe média monta verdadeiros arsenais dentro das casas e facilita a ocorrência de tragédias como, por exemplo, a da escola Columbine, no estado do Colorado.
Esta obsessão pelo uso de armas faz do “serial killer” uma instituição nacional nos EUA. Por acaso, o senhor Acacio quer que tenhamos uma versão tupiniquim destes abomináveis personagens: o “serial jagunço”???
O ordenamento jurídico ao excluir a legítima defesa do ilícito penal, consagra o direito do cidadão em defender-se. Mas deste uso extremo e muito raro até a banalização da auto-defesa, via armas de fogo, como vocifera o articulista, existe uma enorme distância.
O uso de armas deve ficar restrito às polícias e Forças Armadas. Qualquer intenção de estender este uso à população deve ser rechaçado pela pacífica e esmagadora maioria da população.
No mais, democraticamente aceitemos que Acacio Vaz de Lima, Erasmo Dias, Conte Lopes, Jair Bolsonaro e Afanasio Jazadji (credo, que turminha!!) gritem a vontade o seu manifesto direitista e medieval.
Disparos são aceitáveis, desde que verbais. A paz, a democracia e o Estado de Direito agradecem.